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O novo Código Florestal e os desastres ambientais: o que há em comum entre a monocultura, a cana-de-açúcar, a criação de bovinos, a pobreza, políticos corruptos, a destruição da mata ciliar e as enchentes, enxurradas e inundações?

Publicado: 20/05/2011 em Cidadania, Ecologia, Meio Ambiente, Saúde, Sustentabilidade
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O caderno Ciência e Meio Ambiente do Jornal do Commercio, domingo, 08 de maio de 2001, folha 5, trouxe a seguinte matéria:

“Mata ciliar é solução para as inundações”.

Fiquei muito animado com a notícia! No momento, o novo Código Florestal é discutido no Congresso Nacional, promovendo a tentativa de reduzir as áreas de preservação de florestas em margens de rios (mata ciliar), por grupos cujos principais interesses são egoístas e que ignoram as necessidades e sofrimentos coletivos, além do imperativo da preservação ambiental.

Ao mesmo tempo, vemos se multiplicarem os desastres ambientais, a exemplo das enchentes, enxurradas, inundações e deslizamentos de terra, em 2010 e 2011, atingindo Pernambuco, Alagoas, Região Serrana do Rio de Janeiro e outras regiões do Brasil, como as regiões Sul, Centro-Oeste e Norte, com mortes e grande número de pessoas desalojadas e desabrigadas. Muitas dessas pessoas estão desabrigadas desde desastres ocorridos anteriormente ao último registrado. E, não bastasse a tragédia humanitária e as perdas de vidas, os brasileiros em geral, toda a nação, têm de arcar com o incalculável custo de recuperação e reconstrução daquilo que foi destruído. É bom lembrar que as populações mais pobres são aquelas que geralmente sofrem as principais conseqüências dos desastres, aqui e em todo o mundo.

Os artífices do novo Código Florestal argumentam que não há “provas científicas” que justifiquem a manutenção da mata ciliar!

Me poupem, ilustres parlamentares!

Quando se trata de segurança e sobrevivência da humanidade, prevalece o princípio da segurança e torna-se desnecessário provar o óbvio, o ululante. Na dúvida, preserve!

Mas, ainda assim, o cientista ambiental André Alcântara, sob a orientação do pesquisador Ricardo Braga, com apoio da Sociedade Nordestina de Ecologia e com financiamento pelo Fundo Nacional do Meio Ambiente, provou para os céticos, inconseqüentes e egoístas que a mata ciliar precisa ser protegida:

“a vazão da água é bem maior em áreas cultivadas que em áreas florestadas”.

Mas o que isso significa? A tabela a seguir ilustra os resultados e alcance do estudo:

Local

Vazão

(l/s por km2)

Oxigênio dissolvido na água

Necessidade de tratamento da água para consumo

Estação 01 – Próximo da nascente: rio margeado por floresta Atlântica

24,7

Acima do necessário para a água ser considerada própria para consumo Necessita apenas cloração
Estação 02 – Rio cercado por agricultura de subsistência e mata em regeneração

62,6

Próximo do mínimo necessário para a água ser considerada própria para consumo Necessita de tratamento completo
Estação 03 – Margens ocupadas por pasto e canavial

177,6

Muito abaixo do mínimo necessário para a água ser considerada própria para consumo Necessita de tratamento completo

Ou seja:

“em áreas cultivadas, a vazão do rio é sete vezes maior que nas áreas florestadas”, pois onde havia pasto e cana a vazão chegou a 177,6 litros.

Traduzindo, em termos práticos, acrescento aqui uma pequena contribuição ao debate:

Quais são os municípios pernambucanos (e provavelmente também alagoanos) mais atingidos pelas enchentes em 2010 e 2011? Quais as suas principais formas de exploração e uso do solo, conforme dados de 2010?

Município

Situação de desastre ambiental em 2010 e 2011

Densidade demográfica (hab/km2)

Taxa de urbanização (%)

Renda per capita

Taxa de analfa-betismo

– 15 anos e mais (%)

Principal cultura -agrícola e pecuária

(maior valor da produção em R$ e maior efetivo dos rebanhos, respectivamente)

Água Preta Calamidade Pública 60,84 56,61 65,5 39,60 Cana-de-açúcar e bovinos
Barreiros Calamidade Pública 174,49 83,42 93,22 30,76 Cana-de-açúcar e bovinos
Catende Calamidade Pública 182,82 76,33 104,19 33,94 Cana-de-açúcar e bovinos
Cortês Calamidade Pública 122,94 63,45 74,18 36,09 Cana-de-açúcar e bovinos
Jaqueira Calamidade Pública 129,22 61,57 65,03 39,94 Cana-de-açúcar e bovinos
Maraial Calamidade Pública 62,46 70,03 60,57 42,77 Cana-de-açúcar e bovinos
Palmares Calamidade Pública 176,71 78,76 134,47 27,78 Cana-de-açúcar e bovinos
Primavera Calamidade Pública 122,24 63,84 84,88 32,67 Cana-de-açúcar e bovinos
Xexéu Calamidade Pública 127,18 65,04 64,99 43,94 Cana-de-açúcar e bovinos
Quer mais? Veja a tabela completa, ao final, incluindo municípios em situação de emergência.Dados: http://www.bde.pe.gov.br/ArquivosPerfilMunicipal

São justamente aqueles municípios que têm os tipos de agricultura e pecuária apontados como tendo maior vazão em decorrência das chuvas. Não bastasse a pesquisa sobre vazão menor em áreas com preservação de matas ciliares, realizada em Pernambuco, acrescentam-se os dados acima, que são óbvios, ululantes!

Erosão do solo pelas águas em plantio de cana-de-açúcar

Erosão do solo pelas águas em plantio de cana-de-açúcar

O que possuem em comum os municípios de Pernambuco, em estado de calamidade pública, em decorrência das enchentes em 2010 e 2011? (pode incluir também aqueles em situação de emergência)

a)      Cana-de-açúcar como principal cultura agrícola;

b)      Criação de bovinos em pastagens como principal atividade agropecuária;

c)       Geralmente possuem elevadas densidades populacionais (é provável que este seja um dos principais componentes dos graves desastres ambientais!);

d)      Geralmente possuem elevado percentual de urbanização;

e)      Geralmente possuem baixa renda “per capita”;

f)       Geralmente possuem elevados percentuais de analfabetismo entre jovens e adultos, ao qual podemos somar o analfabetismo funcional.

Todos esses fatores estão relacionados entre si e também com baixos IDH (índice de desenvolvimento humano), péssimos indicadores de saúde, elevado desemprego, grande violência e outras mazelas.

Neste contexto, é difícil esperar o exercício efetivo da cidadania. Ainda mais, esperar que essas pessoas pensem e lutem pelo meio ambiente, se não percebem que as suas condições de vida estão associadas a todos esses fatores. Suas crianças e jovens mal podem freqüentar as escolas, com estradas e pontes esburacadas, enlameadas ou interrompidas pelas sucessivas enchentes, além do ainda existente trabalho infantil.

É o alto preço cobrado devido à opção histórica pela monocultura, ocupação e exploração desordenada do solo e abandono educacional das pessoas!

Certamente que a cultura da cana-de-açúcar e a pecuária têm sua importâncias para as pessoas. E certamente que há municípios com cana-de-açúcar e bovinos como principais atividades agropecuárias e que não estão em estado de calamidade pública, e vice-versa. Mas as realidades de Pernambuco e Alagoas são sintomáticas.

Estudos “científicos” de associação de causa e efeito entre múltiplos fatores, tais como fatores ambientais, sociais, econômicos e culturais não são fáceis, tampouco estarão isentos de críticas quanto aos seus alcances e validades. Porém, deixo esta proposta para os pesquisadores em geral, para que realizem vários estudos científicos envolvendo essas temáticas, com grandes promessas de recompensa para a humanidade.

Finalmente, do que foi exposto até então, algumas soluções emergem como óbvias:

– É necessário preservar, recuperar e ampliar a mata ciliar e as florestas em geral. Precisamos de um NOVO Código Florestal que preserve e aumente as florestas, não precisamos de um pernicioso código florestal que proclame a sua dizimação e exploração irracional. Mas, acima de tudo, precisamos desenvolver uma consciência coletiva de respeito ao meio ambiente e à coletividade, que vá além do dever ser das leis, que faça acontecer. Afinal, de “boas” leis o Brasil está cheio. Faltam os bons costumes;

– É necessário educar as pessoas, libertando-as dos grilhões que as prendem à exploração política e à miséria. Educação e cidadania têm de sair dos discursos vazios e mentirosos de candidatos irresponsáveis e despreparados, tornando-se resultados concretos por intermédio de administradores públicos profissionais, competentes e comprometidos com a coletividade;

– É necessário diversificar as culturas agrícolas e pecuárias, explorando-as de forma respeitosa à preservação do meio ambiente e recursos naturais, assim como adequada às necessidades das pessoas, de suas famílias e de suas coletividades;

– É necessário fixar os homens e suas famílias no campo, provendo terra e condições adequadas para a produção agropecuária sustentável. Enquanto consumidores, deveríamos assumir compromisso de compra junto aos agricultores familiares, que teriam a certeza de continuidade de suas atividades, permanecendo no campo. Enquanto governo, aplica-se o mesmo. Aliás, isto já é feito pelo Programa de Aquisição de Alimentos da Agricultura Familiar (PAA), que em Pernambuco, atualmente, adquire da agricultura familiar e distribui com as famílias atingidas pelos desastres;

– É necessário reduzir a urbanização e os grandes adensamentos populacionais. Devemos falar em interiorização das populações, mas também creio que devemos perder o medo de falar em controle de natalidade e sobre o controle do crescimento populacional!

Pois aí estão as causas dos desastres naturais, da pobreza e dos principais flagelos da humanidade, incluindo a fome, a falta de abrigo salubre, as doenças, a violência e a miséria. Não é assim que queremos viver a humanidade!

(mais…)

Que tal experimentar um dia sem carro, apenas caminhando? Você vai se sentir muito bem!

Em Recife/PE tornou-se um suplício as idas e vindas do trabalho. Quer você esteja em um ônibus ou se deslocando de carro, você vai gastar horas e horas do seu precioso tempo no trânsito lento da cidade. E como o tempo é o nosso bem mais precioso, que passado, não volta mais, cabe buscarmos alternativas para melhor utilizá-lo.

Em poucos anos, a quantidade de veículos aumentou enormemente em nossos centros urbanos. Uma matéria publicada no Diário de Pernambuco (de Carolina Khodr), em 05/12/2010, proporciona interessantes reflexões sobre o assunto. “Cidade grande, perigo idem”: duplica o risco de infarto quanto alguém está preso em um engarrafamento, pois respira-se mais poluentes, além do estresse. São comentários do pesquisador da USP, Paulo Saldiva, médico e estudioso de poluição ambiental. Quanto maior a poluição nas cidades, menor a expectativa de vida. Aumentam as mortes por câncer de pulmão, doenças respiratórias e infartos.

Note-se que o transporte coletivo nunca foi prioridade na maioria das cidades do Brasil. Resultado: desperdício de tempo e de combustível, prejuízo para a economia, poluição do ar e sonora, estresse e menos tempo para fazer o que realmente importa para cada um de nós: estar com a família, exercitar-se, trabalhar, dedicar-se ao lazer, etc.

Um trecho que normalmente seria percorrido em 10 minutos, hoje reclama de nosso tempo 20, 30, 40 minutos ou mais, se você não morar muito longe do trabalho. Parece pouco, mas não é. Imagine um acréscimo de 10 minutos em cada trecho de deslocamento. Ida e volta são mais 20 minutos diários, quase 2 horas a mais gastas por semana, cerca de 7 horas despendidas a mais por mês e quase 4 dias por ano no interior de um veículo. Preso em um carro ou em um ônibus, pouco podemos fazer além de ouvir música, um audio livro, além de sofrer o eventual stress com o trânsito, o qual requer total atenção para evitar acidentes, se você estiver dirigindo. É possível usar melhor esse tempo? Creio que sim.

Moro a cerca de 4km do trabalho, de carro. Hoje gasto entre 20 e 40 minutos a cada ida ou volta. Saindo antes das 7:00h e voltando antes das 17:00h, o tempo tende a encurtar. Um colega gasta 15 minutos de bicicleta, buscando vias menos utilizadas pelos veículos. Mas temo essa alternativa, pois os motoristas não respeitam ciclistas nem pedestres, e quase não temos ciclovias, ao contrário de alguns países que valorizam muito mais o pedestre e a bicicleta. Decidi então tentar um uso mais nobre para o meu tempo. Por que não uma caminhada de volta do trabalho?

Selva de pedra
(Visão da travessia de pedestres na Av. Conde da Boa Vista, no centro de Recife: por incrível que pareça, ainda são minoria os motoristas que param para os pedestres atravessarem na faixa. E os motoqueiros, menos ainda. Clique na foto para conhecer minha galeria de fotos no Flickr)

No Google Maps, descobri que a caminhada para casa era de 3,2km, estimada em 35 minutos. Resolvi tentar. Num dia, fui de carona para o trabalho. Usava jeans, camisa pólo e tênis confortável. Esperava tão-somente trocar o tempo no interior de um veículo por uma atividade física aeróbica, gastando quase o mesmo tempo. De quebra, contribuiria para reduzir o número de veículos em circulação e, também, para reduzir a emissão de CO2 e outros gases nocivos ao ambiente, causadores do efeito estufa. Porém, ganhei mais que isso.

Mal deixei o prédio em que trabalho, caminhando por uma avenida na qual não passaria com o meu carro, encontrei um amigo que há tempos não tinha o prazer de ver. Foram 5 minutos de animada conversa. Me despedi e continuei a jornada. Observei cenas que usualmente não vemos quando no interior de um veículo: a paisagem é diferente, estamos mais perto das pessoas e de tantas coisas interessantes que há nas ruas, vemos os prédios e suas fachadas de ângulos diferentes, e temos uma visão mais privilegiada do céu.

Mas não é só isso. Logo percebi que me entreguei a divagações que não são permitidas quando estamos dirigindo, pois o trânsito reclama maior atenção e esta, por sua vez, gera maior tensão. Caminhando, redescobri o hábito de viajar em pensamento, refletindo sobre o significado de cada cena com a qual me defrontava.

No papel de pedestre, logo percebi o quanto nós motoristas podemos ser egoístas e perigosos, assim como as nossas cidades deixaram de ser das pessoas para serem dos carros.

Cada travessia de avenida representou um verdadeiro desafio, mesmo na faixa de pedestres, pois quase sempre haverá passagem de veículos vindos de um determinado sentido, quando o sinal estiver fechado para um outro. E pernas para que te quero. Isso porque não sou idoso, nem portador de necessidades especiais. Do contrário, seria quase impossível tal deslocamento. Mas este torna-se apenas um inconveniente quando confrontado com maiores benefícios.

No caminho, passei por diversas padarias onde não costumaria parar, pelas dificuldades de estacionar. Sendo um final de tarde, e como estava caminhando, escolhi uma delas para comprar o pão francês nosso de cada dia, diferente daquele encontrado na padaria da esquina de casa. Não tardou e eu estava de volta às ruas, no caminho de casa. A cada passo, as cenas em volta se tornavam mais familiares.

Não demorou muito, cheguei à minha rua e ao meu prédio. Um pouco ofegante, bastante suado. O porteiro logo notou e perguntou de onde eu vinha. Achou legal a iniciativa e comentou que aquilo me faria muito bem. Subi, fiz alguns alongamentos, tomei um banho gostoso e logo estava pronto para continuar a minha rotina diária.

Nas semanas seguintes, repeti a experiência, esperando torná-la um hábito, com as vantagens dos benefícios que pode nos trazer. É bom lembrar que o estilo de vida influencia muito a nossa saúde. Repetindo os trajetos, escolhi melhores locais para atravessar ruas e avenidas, além de calçadas que permitem mais fácil deslocamento.

Alguns colegas de trabalho perguntaram se não era inseguro, temendo assaltos. Comentei que não via qualquer diferença de qualquer outra curta caminhada que tenhamos de fazer, perto de casa. É prudente não ostentar objetos de valor. Além disso, se não ocuparmos nossas ruas, aí sim, estas serão ocupadas por quem não queremos. Enfim, creio ser esta uma boa alternativa para muitas pessoas: saudável e ecologicamente benéfica. Quem puder, experimente passar um dia sem carro.

Espero apenas que os nossos governantes atentem para os problemas do trânsito urbano, buscando solução para o mesmo e, sobretudo, que garantam maior segurança aos pedestres e ciclistas. E que nós, enquanto motoristas, vez por outra nos coloquemos na pele dos pedestres. Assim respeitaremos mais aqueles que se deslocam pelas nossas ruas e avenidas.